A atriz Mariana Xavier causou controvérsia nas redes sociais ao questionar o uso da toxina botulínica, conhecida como Botox, para tratamento preventivo contra as rugas. Em um post em suas redes sociais, ela disse que “envelhecer não a assusta” e que o uso do produto seria uma maneira de esconder as “provas de passagem do tempo pelo rosto”.
Em conversa com a IstoÉ Gente, a Dra. Paula Barreto, médica especialista em dermatologia pela Universidade de São Paulo, explica o procedimento estético, que está cada vez comum.
“O Botox preventivo surgiu da observação de muitos anos de estudos, dentro de clínicas dermatológicas, de que os pacientes que faziam o procedimento de maneira regular, geralmente de seis em seis meses, apresentavam uma diminuição na velocidade de formação das rugas. A toxina botulínica não age nos outros pontos do envelhecimento, apenas na formação das rugas”, explica a Dra. Paula Barreto, que é Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Academia Americana de Dermatologia (SBCD).
De acordo com a profissional, a toxina botulínica age na placa motora e impede que o músculo contraia quando chega o impulso fácil, o que faz com que as rugas não sejam criadas. Ela ainda reforça que o procedimento não é permanente e que não é para tudo mundo.
“Quem tem um entendimento igual ao da Mariana Xavier, de que quer envelhecer com as suas rugas e que elas contam a sua história, não é o perfil de pessoa que vai buscar o Botox preventivo. E não tem problema algum nisso. Só que existe um outro grupo de pessoas que desejam envelhecer com menos marcas do tempo e, para essas pessoas, o procedimento é bem-vindo”, disse.
Um outro ponto levantado por Mariana Xavier em seu post foi a proliferação dos procedimentos estéticos. “Alimentar a insatisfação com a nossa aparência é um negócio que rende muito. Ao decidir fazer um procedimento estético, você consegue saber o quanto você realmente quer ou o quanto te fizeram querer?”, escreveu a atriz. Para a Dra. Paula Barreto, os procedimentos estéticos estão presentes para agregar na vida das pessoas.
“Os procedimentos estéticos, quando bem realizados, agregam resultado e fazem com que as pessoas se sintam mais bonitas. Elas resolvem queixas que as vezes as acompanharam a vida toda, melhora a autoestima. A satisfação e o bem-estar que se cuidar traz, reverberou”, ponderou a dermatologista. “Eu não acho que exista uma banalização à recomendação do procedimento estético, eu entendo que exista um conhecimento de um número maior de pessoas que almejam os benefícios. O que surgiu foi uma classe de pessoas que não tem formação para desempenhar os procedimentos estéticos com segurança e que estão aproveitando desse momento em que os procedimentos estão tão bem reconhecidos. A banalização existe do profissional, que quer surfar a onda e usufruir do que tantas pessoas estão construindo”, finalizou.
A história do Botox
A toxina botulínica, é uma neurotoxina produzida por uma bactéria chamada Clostridium botulinum. A toxina produzida pelo Clostridium botulinum começou a ser estudada como opção terapêutica para tratar espasmos musculares na década de 1810, pelo médico alemão Justinus Kerner. No final do século, em 1895, o pesquisador belga Emile van Ermengem conseguiu isolar a bactéria pela primeira vez.
Apesar disso, foi apenas na década de 1980, quase 200 anos depois do isolamento do micro-organismo, que começou a se suspeitar que sua toxina poderia ser empregada para fins estéticos. Em 1987, a Dra. Jean Carruthers, médica oftalmologista canadense, estava fazendo aplicações da substância em uma paciente de 38 anos que sofria de blefaroespasmo, uma condição que causa espasmos contínuos nas pálpebras.
A paciente solicitou que a médica fizesse mais uma aplicação da toxina em sua testa, apesar de não ter problemas nessa região. Questionada pela Dra. Jean, a paciente respondeu que, quando recebia as aplicações, suas rugas desapareciam. À noite, a Dra. Jean comentou sobre o fato curioso com seu marido, o dermatologista Dr. Alastair, que não se impressionou muito com o relato de sua esposa. No dia seguinte, porém, a Dra. Jean convenceu sua recepcionista a utilizar a toxina botulínica para tratar suas rugas da testa.
Nessa mesma época, o Dr. Alan Scott, de San Francisco, nos Estados Unidos, estava pesquisando um tratamento para o estrabismo. Para isso, ele fazia injeções de uma substância – a toxina botulínica – em seus pacientes, que também começaram a apresentar esse curioso efeito colateral.
Alguns dos pacientes relatavam ao Dr. Scott que, depois das aplicações da toxina, eles ficavam com a pele mais bonita, pois suas rugas eram suavizadas. O médico conta que, no começo, ele achava graça desses comentários, mas, depois de algum tempo, ele começou a perceber que havia uma relação entre o tratamento e o efeito percebido. A partir disso, estava criado a toxina botulínica para o uso estético, com a finalidade de suavizar as rugas.
Em 1989, o FDA, órgão que controla o registro de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, liberou o uso da toxina botulínica para o tratamento do estrabismo. Em 2001, a substância foi aprovada para o tratamento da hiperidrose (suor excessivo) no Reino Unido.
Finalmente, em 2002, o FDA autorizou o uso da toxina botulínica para melhorar a aparência das rugas de expressão localizadas entre as sobrancelhas em pacientes adultos.